terça-feira, novembro 15, 2005

Uma família ideal

Por: Oleksander Makar*

- Olá, querida!
- Oí, querido! (beijinho, beijinho, beijinho)
- Como estas, minha fofa, as novidades? (sem nenhum interesse na voz)
- É pá, todo o dia a trabalhar, nem fiz o jantar. (com apatia)
- Não fizeste? E o que você fez durante o dia? (com interesse) - Lavava a roupa, limpava a casa, foi a loja. (parece que sabe da cor)
- Estiveste na loja todo o dia? (levanta as sobrancelhas)
- E você pensa que é fácil? Ninguém me traga a comida de taxi. (com afronta)
- Eu nem digo que é fácil, mas também não é tão difícil, não é? (no tom quase reconciliador)
- É pá, não é difícil, e você o que fez hoje? (no tom retórico)
- Trabalhei como escrava Isaura! Você pensa que ando dar pontapés nas conas? (com uma irritação crescente)
- Não diga palavrões a frente da criança! (grita)
- Eu não digo nada, será que disse alguma coisa? (interroga-se)
- Você disse cona, o que, já não tens a memória? (grita outra vez)
- Papá, nos fomos visitar a tia Natacha (a criança)
- Ah, é assim que você foi a loja! (com clara irritação)
- Mas com caralho, não posso visitar a melhor amiga? (com ódio)
- Você que manda as bocas, pareces uma puta! Tinhas que gastar uma hora, para chegar lá! (querendo definir os parâmetros do tempo e da hora)
- Vai lá tachar! (com indiferença)
- Não é tachar, comer, sua grunha! (picando)
- Vai longe! (pressente-se o escândalo)
- Vá tu, outra vez fizeste uma merda qualquer? É pá, mas que comida é essa, massa com salsichas? E você preparava ISSO todo o dia? (constatando o facto)
- Ainda lavei a roupa! (acrescentando)
- Tu talvez até mataste o porco para fazer as salsichas? (com sarcasmo)
- É pá, não queres, não come. (com indiferença)
- Eu morro, se deixar de comer. (para o vazio)
(uma pausa de cinco minutos, sobreposta por mastigação da comida)
- Podias dar um copito, comida não entra na boca. (um pedido)
- Bêbado.......toma – enche lá a cara! (com cara de poucos amigos) (um gole)
- E tu, não vai um? (interroga-se)
- Essa é boa, vais ficar na boa sozinho? Enche-la! (com desejo de beber)
(dois goles...estão mastigar à duas bocas)
- As salsichas são boas. Não temos o ketchup? (organizando)
- Toma lá o ketchup. (uma voz da paz)
(gole, gole, gole, gole)
- Queres o queijinho para a massa? (interrogação)
- É pá, eu já quase acabei. (com uma pequenina fome)
- Eu vou te pôr mais, com queijo. (quase fofo)
- Come tu também, estas cansada, claro? Eu vou te trazer agora. (com amor)
- Corta lá o pão, querido (feliz)
- Agora, minha alegria (com gosto)
- A nossa? (interroga-se)
- A nossa! (afirmativo)
(gole, gole, gole, gole)
(beijinho, beijinho)

* (Perito em STF), Kyiv, Ucrânia