Quem é o Bohdan Hmelnyckiy?
O homem que juntou Ucrânia à Rússia em 1654 / História
Bohdan (Zinoviy) Hmelnyckiy, que nasceu em 27 de Dezembro de 1595 e faleceu em 6 Agosto de 1657, era o estadista político – militar da Ucrânia, posteriormente Hetman (Presidente militar). Nasceu na família de centurião da cidade ucraniana de Chyhyryn, quando a maior parte da Ucrânia actual, estava sob domínio colonial do Estado federado do Reino da Polónia e do Condado da Lituânia.
Hmelnyckiy foi educado na escola de Irmandade de Kyiv (Kiev) e depois no Colégio de Jesuítas em Lviv (Lvov), sempre preservando a religião ortodoxa. Alem do ucraniano, falava polaco, latim, turco e francês.
Na guerra entre a Polónia e o reino Moscovita em 1618, Hmelnyckiy luta ao lado dos polacos contra os russos. O Rei da Polónia, Vladislaw IV, condecora a bravura de Hmelnyckiy, oferecendo lhe uma espada de ouro.
Em consequência da guerra polaco – turca em 1620 – 1621, Hmelnyckiy perde o seu pai, Myhaylo, é aprisionado pelos turcos e passa dois anos em Constantinopla.
Depois da sua libertação em 1622, Hmelnyckiy casa com Ana Somko, e passa a organizar varias expedições dos cossacos ucranianos contra as cidades turcas.
[Os cossacos ucranianos eram os pequenos senhores feudais, constituíam a elite militar do país. Cossacos eram homens e mulheres livres, que uma parte do seu tempo dedicavam à lavoura e aos ofícios, e outra à arte da guerra. Tinham o seu Quartel General (mais conhecido como “Zaporizska Sich”) na ilha de Horticia, junto à actual cidade ucraniana de Zaporijjia].
A expedição marítima mais famosa dos cossacos deu-se em 1629, quando, liderados pelo próprio Hmelnyckiy, eles atacaram o capital turca – Constantinopla. Hmelnyckiy ganha o reconhecimento ente os ucranianos, por defender os interesses nacionais perante os soberanos polacos.
Em 1645, ele é o enviado especial do Rei Vladislaw IV à França, onde tive encontros com conde Breguit (embaixador francês na Polónia). Em resultado, 2400 cossacos ucranianos foram enviados à França, onde participaram no cerco da cidade de Dunquerque pelo príncipe Conde. Em 1645 – 1646, Hmelnyckiy participa activamente na guerra Franco – Espanhola.
[Na altura, Zinoviy (Bohdan em ucraniano quer dizer “Dado pelo Deus”, este nome Hmelnyckiy adoptará mais tarde), era um típico representante da elite colonial, que continha-se com privilégios oferecidos pela Metrópole (Varsóvia)].
O ponto de ruptura, entre Hmelnyckiy e as autoridades coloniais deu-se, quando a sua propriedade Subotovo (nas arredores da cidade de Chyhyryn) foi atacado pelo fidalgote polaco Czaplickiy. Este, saqueou a propriedade, raptou a companheira de Hmelnyckiy e matou um dos seus filhos.
Como cidadão cumpridor da Lei, Hmelnyckiy recorreu ao tribunal, onde foi mal recebido e humilhado. Em Varsóvia, ele recorreu ao Rei Vladislaw IV, mas este, sentindo-se impotente perante a nobreza, alegou estranhar, que os ucranianos, “tendo as armas nas mãos, permitem serem maltratados”.
Cerca de 1645, Hmelnyckiy começa preparar um levantamento popular contra a dominação colonial polaca na Ucrânia. É preso pelos autoridades coloniais, consegue escapar e no dia 11 de Dezembro de 1647 chega, com seu filho Tymofiy, à Zaporizska Sich no Quartel Geral dos cossacos. De lá, Hmelnyckiy é enviado pelos cossacos à Crimeia para convencer o estadista tártaro, Islam – Girey, juntar-se aos ucranianos na guerra contra os polacos. Islam – Girey não dá uma resposta definitiva, mas envia um dos seus lugar – tenentes, Tugan – baio para acompanhar os ucranianos.
Em Janeiro de 1648, inicia-se na Ucrânia, em todo o território nacional, a luta armada de libertação nacional, contra o colonialismo polaco.
Na batalha de Jovti Vody (6 de Maio de 1648), de Piliavci (1648) e na batalha nos arredores da cidade de Korsun (15 de Maio de 1648), os ucranianos, em conjunto com os tártaros, derrotaram o exército polaco.
Zinoviy Hmelnyckiy foi proclamado como Hetman (presidente militar eleito pelo sufrágio directo, com o direito do voto pertencer apenas à classe dos cossacos), com pompa e circunstância ele entrou em Kyiv, onde recebeu o reconhecimento internacional como Chefe do Estado da Ucrânia. O sultão da Turquia, os chefes do Estado da Crimeia, da Moldova e o rei russo Aleksey Mihaylovich, estavam propor lhe a sua amizade. Até o Rei polaco, reconhece o Hmelnyckiy, como Hetman da Ucrânia.
[A dependência de Hmelnyckiy em relação à Polónia, é largamente usada para argumentar que, a Ucrânia não era um país soberano, nem tive um chefe do Estado no sentido lato. No entanto, temos aqui um caso típico de relações coloniais entre a Metrópole e o “ultramar”. Assim, como em África lusófona, os soberanos locais reconheciam a primazia do Rei do Portugal, ou em Ásia, era reconhecida a primazia dos Reis do Reino Unido, assim o facto de Hmelnyckiy reconhecer formalmente o Rei polaco, não diminui em nada a sua soberania sobre a Ucrânia.]
Em Janeiro de 1649, a assembleia legislativa polaca decidiu formar o corpo de voluntários e invadir a Ucrânia para acabar com a resistência anti – colonial. Hetman Hmelnyckiy lançou um apelo ao povo para defender a Pátria. Num curto período de tempo, foram formados 24 regimentos que representavam as terras históricas do país e na sua criação, seguiam o sistema militar dos cossacos ucranianos.
Depois de alguns vitorias importantes sobre o exército polaco, ucranianos foram traídos pelos tártaros e tiveram que assinar o tratado da paz de Zborovsk, prejudicial para os direitos e liberdades dos ucranianos.
O tratado previa que os ucranianos pudessem ter um Exército de apenas 40.000 homens, os restantes, deveriam depor as armas e retornar às propriedades dos seus senhores feudais polacos, para o trabalho semi – escravo. Os fidalgos polacos armavam bandos dos pistoleiros e andavam a caça dos lideres da resistência ucraniana. Hmelnyckiy tentava respeitar o acordo de Zborovsk, exigindo o mesmo do povo. Mas os polacos não respeitavam os acordos, assim o clero católico impediu a presença do Metropolitano de Kyiv – Silvestre Kossov, nos trabalhos da assembleia legislativa polaca em Varsóvia.
A violência polaca provocava a resposta ucraniana, os populares reuniam-se em grupos armados conhecidos como “levency” e atacavam as propriedades coloniais. Em Novembro de 1650, uma embaixada ucraniana chegou à Varsóvia com exigências de parar com a violência política e religiosa da nobreza polaca, exigência que provocou uma indignação bastante grande na assembleia legislativa. Assembleia, não rectificou o tratado da paz de Zborovsk e decidiu declarar a guerra à Ucrânia.
Confrontos começaram em Fevereiro de 1651. O Patriarca de Constantinopla enviou à Hmelnyckiy a carta, onde abençoava a guerra contra os católicos, Metropolitano ortodoxo Iosaf, entregou ao Hetman uma espada santificada em Jerusalém.
Papa mandou aos católicos uma bandeira santificada em Roma e uma espada para extermínio dos “apoiantes da cisma”, cossacos ucranianos.
No dia 19 (20) de Junho de 1651, o exército conjunto, ucraniano – tártaro atacou as fileiras polacas na batalha de Berestechko. Mas os tártaros traíram os ucranianos, retirando-se no meio da batalha, e até prenderam o Hmelnyckiy, levando este à Crimeia.
No fim de Julho de 1651, Hetman Hmelnyckiy consegue voltar à Ucrânia, onde começa formar o novo exército anti – colonial. Casa com a Ana, irmã do nobre ucraniano Zolotojenko, o futuro coronel da cidade de Korsun.
Ano 1651. A Ucrânia é invadida por exército polaco e pelo soberano lituano Radzivil, que no dia 6 de Agosto de 1651 capturou a cidade de Kyiv. Mais tarde, o exército conjunto polaco – lituano juntou-se na cidade ucraniana de Bila Cerkva. Onde no dia 17 de Setembro de 1651, Hetman Hmelnyckiy foi obrigado a assinar o tratado da paz de Bila Cerkva, que liquidava quase todos os direitos e liberdades dos ucranianos.
Mais tarde, em Maio de 1652, os polacos romperam o tratado, quando o filho de Hmelnyckiy, acompanhado por uma parte do exército, dirigia-se à Moldova, onde pretendia casar com a filha do Rei dos moldávios. Um importante feudal polaco, Kalinowskiy, apoiado por seu exército, barrou o caminho dos ucranianos, junto à floresta de Batih. Na batalha de Batih, os polacos perderam 20.000 homens e o próprio Kalinowskiy foi morto. Essa vitoria, desencadeou de novo, um levantamento popular em toda a Ucrânia, contra a dominação colonial estrangeira.
Apesar disso, Hetman Hmelnyckiy considerou, que não iria conseguir, assegurar a independência da Ucrânia, contando só com o esforço nacional. O país necessitava criar as alianças estratégicas. Hmelnyckiy entrou em negociações com a Suécia, Turquia e a Rússia.
Na Primavera de 1653, comandante polaco Stefan Czarneckiy, assinou um tratado separado da paz, com os tártaros, que tornaram-se, assim, os aliados dos polacos. A Ucrânia começou a ser saqueada por polacos e tártaros.
Hmelnyckiy pretendia assinar o tratado da amizade e cooperação com a Moscóvia.
No dia 1 de Outubro de 1653, em Moscovo, a assembleia dos nobres (Zemskiy Sobor) decide que Bohdan Hmelnyckiy e os cossacos ucranianos poderão ser súbditos do Rei moscovita.
No dia 8 de Janeiro de 1654, na cidade de Pereyaslavl (hoje Pereyaslavl – Hmelnyckiy), foi convocado o Conselho Magno (Rada) dos cossacos ucranianos, que entre quatro soberanos, propostos: sultão turco, cão da Crimeia, rei polaco ou czar moscovita, escolheu o último, jurando fidelidade à Moscóvia. O clero e a nobreza militar ucraniana, juravam muito contrariadas, eles pretendiam a independência total da Ucrânia.
O tratado de amizade entre a Ucrânia e o Reino Moscovita, conhecido como “Artigos de Março” previam uma autonomia político - administrativa da Ucrânia. O tratado, também, salvaguardava os direitos e liberdades dos cossacos ucranianos em continuar como homens e mulheres livres, apesar do que na Moscóvia, os camponeses viviam no regime de semi – escravidão. O original dos “Artigos de Março”, hoje se encontra perdido.
Existe mais um documento que definia o estatuto da Ucrânia na Moscóvia, conhecido como “14 artigos” ou “Artigos de Pereyaslavl”. Este documento foi o produto das negociações entre o jovem Hetman Yurko Hmelnyckiy e conde moscovita Trubeckoy, em Outubro de 1659 em Pereyaslavl.
Hmelnyckiy não abandonava os planos de tornar a Ucrânia independente, para tal, em 1657, ele assinou um tratado de amizade com Rei sueco Karl X e com conde húngaro Yuri Rakocci.
Bohdan Hmelnyckiy desempenhou as funções de Hetman até a sua morte. Na primavera de 1656, Hetman Hmelnyckiy adoece gravemente. No dia 27 de Julho (6 de Agosto, pelo estilo ocidental) de 1657 o velho Hetman morre na cidade de Chyhyryn. A missa do corpo presente, foi feita na igreja de Sto. Ilías, na sua propriedade em Subotovo. A igreja também acolheu o corpo de Hmelnyckiy. Mas os polacos não queriam deixa-lo em paz, mesmo depois da morte. Alguns anos mais tarde, o feudal Stefan Czarneckiy, profanou os restos mortais de Hetman.
Depois da sua morte, a Rada dos cossacos, escolheu como sucessor de Hmelnyckiy o seu filho menor Yurko Hmelnyckiy (Hetman tive três filhos e duas filhas: Kateryna e Stefanida).
Fontes:
1. Grushevskiy Myhaylo, “Про батька козацького Богдана Хмельницького”, Dnipropetrovsk, Sich, 1993, página 55;
2. Kostomarov Myhaylo, “Bohdan Hmelnyckiy: esboço histórico”, Kyiv, Veselka, 1992, página 93;
3. Hotkevich Gnat, “Bohdan Hmelnyckiy, Hetman da Ucrânia”, Lviv, 1909 – 1910.
Nota de tradutor:
348(!) anos depois da sua morte, o papel de Bohdan Hmelnyckiy na história da Ucrânia, suscita várias leituras e provoca discussões académicas e jornalísticas.
Os historiadores tradicionalistas russos, ou aqueles que se identificam com os interesses do vizinho do Leste, defendem que Bohdan Hmelnyckiy é um estadista sábio, que felizmente para a Ucrânia, encontrou um parceiro certo, para ajudar o país.
Os historiadores tradicionalistas polacos, defendem que Hmelnyckiy não passa de um “amotinado”, que atraiçoou o seu soberano, o rei da Polónia.
As opiniões dos historiadores ucranianos, dividem-se entre várias escolas de pensamento, permitindo apelidar Hmelnyckiy desde “traidor”, até o “estadista sábio, que infelizmente para a Ucrânia, encontrou um parceiro errado, para ajudar o país”.
Bandeira de Bohdan Hmelnyckiy chegou à Kyiv
Uma das mais importantes distinções do Poder dos Hetmanes da Ucrânia – a bandeira pessoal de Bohdan Hmelnyckiy, chegou à Kiev, vinda de Estocolmo (Suécia).
Em 1995, o historiador ucraniano, Yuriy Savchuk, descobriu a bandeira no Museu Militar de Estocolmo, para onde esta foi levada pelo exército sueco durante a guerra de 1655 – 1660.
A bandeira,(feita, provavelmente em 1649) tem no seu pano de linho as letras “Б. Х. Г. Е. К. М. Л. О. В. З.” que significam o nome e o titulo do chefe militar ucraniano: Bohdan Hmelnyckiy Hetman da Sua Graça Real Exército de Zaporijjia. Bandeira, também, tem uma cruz e alguns estrelas: de cinco e seis pontas. O seu significado, não está claro.
A bandeira de Hetman Hmelnyckiy, é a primeira bandeira ucraniana conhecida, que não contem os símbolos dos outros países. O “coração” da bandeira é branco, os cantos de carmesim (a cor preferida pelos cossacos ucranianos).
Infelizmente, a historia conturbada da Ucrânia, fiz com que as relíquias nacionais importantes, ligados a figura de Hetman Hmelnyckiy, estão espalhados por vários países da Europa. Assim, o bastão de Hmelnyckiy, (um dos símbolos mais importantes do titulo de Hetman), feito no século XVII do corno de rinoceronte e incrustado com prata e marfim, está em Varsóvia, no Museu do Exército polaco. A taça de Agua Benta, feita de prata, com incrustação de ouro está no Museu Estatal Histórico de Moscovo. A Fundação dos Condes Czartoriysky, no Museu Nacional de Cracóvia, possui a espada, açoite e uma taça de prata. O Museu Nacional da Historia da Ucrânia em Kyiv, tem apenas o chapéu do Bohdan Hmelnyckiy.
Fonte: www.kreschatic.kiev.ua