Os moscovitas / Кацапи / PG 18
Oleksander ( Les ) Podervyanskiy
www.ultima.te.ua
www.doslidy.kiev.ua
Dedicado às relações inter - povos.
Família Deryosov. Vladimír – moscovita. Aleksándr – moscovita. Nadéjda – moscovita. Yemelyán – moscovita. Valentín – jovem moscovita, filho de Nadéjda.
Grisha – lutador. Misha – pugilista. Tolik – filho de Opanas. Opanas – ladrão, gasto pelas prisões. E também a voz vinda do mar, que pertence ao antigo combatente, que toma banho.
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Dedicado às relações inter - povos.
Família Deryosov. Vladimír – moscovita. Aleksándr – moscovita. Nadéjda – moscovita. Yemelyán – moscovita. Valentín – jovem moscovita, filho de Nadéjda.
Grisha – lutador. Misha – pugilista. Tolik – filho de Opanas. Opanas – ladrão, gasto pelas prisões. E também a voz vinda do mar, que pertence ao antigo combatente, que toma banho.
Primeiro acto
Varanda com samovar (a chaleira russa) e bandeja de uva junto a um mar azul. Mar está muito calmo. Na varanda estão sentados os moscovitas que jogam as cartas.
Aleksándr: (para Nadéjda) O teu Vladimír, não entenda no jogo o patavina!
Vladimír: Apanhaste o meu ás, agora ‘tás chateado, ‘tás, pá, eu vejo!
Yemelyán: Então, o que temos agora, as duas últimas?
Nadéjda: Você, meu amigo de peneira, caíste da Lua, o que? Agora não levamos as moças.
Aleksándr: Vladimír, seu panileiro, os paus agora não jogam, pá! Olhem lá, explicas para ele, e ele fica sentado, nem parece é nosso, parece que vende caralho.
Nadéjda: Valentín, de caiado! Tu porque apertas os colhões do gato? O gato é seu?
Valentín: Maesinha, eu puxei só uma única vez!
Nadéjda: Olhe lá, Valentín!
Aleksándr: Vai tudo p’ra cona, nos estamos jogar ou não?
Vladimír: Não é nada, o seu filhão é um batalhador, diz lá para o tio, vou crescer, e então tio Aleksándr, também te arranco os colhões, para que você ande menos nas putas!
Valentín: Vou crescer, tio Aleksándr, e também te arranco os colhões, para que você ande menos nas putas!
Todos os moscovitas riem-se. No mar, devagarinho, aparecem pequenas ondas que batem, de maneira gostosa, no praia.
Segundo acto
Um compartimento comum de um comboio de merda. Nos bancos estão sentados Grisha, Misha, Tolik e Opanas. Eles olham à janela, descascam um peixe seco, bebem chá de porta – copos de alumínio e em fim, divertem-se, como é normal num comboio.
Tolik: (olha à janela) Pai, olhe lá, é um camião!
Opanas: (acaricia os cabelos de filho) Sim, filho, se você agora meter-se na estrada, então as suas tripas poderão voar para bem longe!
Tolik: Pai, é pá, as montanhas. Pai, lá estiveram os nossos?
Opanas: (acaricia os cabelos de filho) Estiveram, filho, eles estiveram em todo o lado.
Tolik: E eles resistiam até a morte?
Opanas: (bate o filho na cabeça) Cala te, porra, já me chateaste p’ra caralho!
Misha: Ele é criança, não entende que pai está cansado.
Grisha: Vocês vêm de longe?
Opanas: Da prisão!
Misha: (tira a garrafa de vinho): Papá, vais beber?
Opanas: O fígado de caralho, mas enche lá o copo.
Tolik: Papá, eu também quero!
Opanas: Toma lá, mas depois não pede p’ra ir mijar.
(Todos bebem).
Opanas: Vou nadar no mar, caralho. E vou dar o banho à ele (aponta ao Tolik). Os médicos receitaram à ele nadar no mar.
Tolik: Pai, o que é melhor: tanque ou metralhadora?
Misha: Tanque melhor, metralhadora uma vez leva a porrada e caralho, fodeu-se!
(Com estes palavras, Misha enche os copos de Opanas, Grisha, Tolik e o seu com o vinho).
Tolik: Papá, eu quando crescer, então estudarei para ser comandante ou oficial de exército! O que é melhor, oficial ou comandante?
Grisha: É a mesma merda!
Opanas: Você ainda é um punheteiro, para estudo de oficial.
Misha: Diz, Tolik, fodeste me a cabeça pai, com os seus oficiais, eu vou nadar no mar! Queres nadar?
Tolik: Eu quero disparar!!!
Terceiro acto
Varanda com samovar e os moscovitas. O mar é agradavelmente agitado.
Vladimír: (pega num considerável pedregulho) Nadéjda, olhe lá, como eu agora vou atirar essa pedra, pá!
Nadéjda: Mas você é como um puto, pá, não respeitas a si próprio! Você já é um caralho velho pá!
Vladimír: Mas vamos apostar, só de brincadeira pá, vai saltar três vezes! (Vladimír atira a pedra no mar, que logo afunda-se).
Nadéjda: Então, pá, seu panileiro, comeste a merda?! Não tenhas a vergonha?!
Yemelyán: Vladimír, pedra tem que ser esplanada, olha a minha, vai saltar umas cinco vezes.
Nadéjda: Como putos, pá, por amor de Deus, as pessoas olham, seus panilas velhos!
Vladimír: ‘Ta calada, puta, se não, também vamos te atirar ao mar, caralho!
(Com medo, Nadéjda cala-se. Vladimír e Yemelyán atiram as pedras. Aleksándr, com ciúmes, encontra um enorme calhau e abanando-o, corre para a praia).
Aleksándr: Enquanto vocês aqui andavam se foder, eu apanhei isso (mostra calhau, escorregadio e nojento à Vladimír e Yemelyán e atira o ao mar).
Uma voz vinda do mar: É pá, eu, porra, agora fodo um panileiro qualquer com a pedra! (Do mar sai um antigo combatente de biquini e com as medalhas no peito cabeludo. Uma perna sua é dez centímetros mais curta que a outra).
Antigo combatente: (para Aleksándr) Eu, porra, fodo uma vez, qualquer hospital vai me receber, e a ti – não!
Valentín: (para Aleksándr) Tio, Aleksándr, o tio inválido, o que, quer arrancar os seus colhões, para que você ande menos nas putas?
Um silencio alarmante. Mau tempo no mar agrava-se cada vez mais.
Quarto acto
Compartimento comum de um comboio de merda. Na mesa sentam bêbados Misha, Grisha, Opanas e Tolik, mantendo a conversa da alta sociedade.
Misha: (para o Grisha) Uma vez num país Báltico, eu sentei no bar. A minha volta – as cadeiras antigas. Uma cena de caralho! Entra um cabrão e me diz: “este lugar é meu, será que você se pode mudar”? Eu respondo: “mas com caralho, será que tu fumaste, talvez és tu que vais te mudar”?!
Misha: Eu fodo essas cenas!
Grisha: Eu te admiro, Misha, porque tu és um gajo arriscado!
Misha: Esses gajos, no Báltico, caralho, escrevem tudo nas ruas, numa língua que não é a nossa! Quando perguntas algo, então ele primeiro olha assim para ti, depois começa na sua língua blá – blá – blá! Não entende a puta em russo. As gajas deles são uma merda. Assim (mostra com a mão junto a cabeça), ainda mais ou menos, mas o resto é uma merda.
Grisha: O que, em todo o lado, tudo ‘ta escrito numa língua que não é a nossa?
Misha: Mas com caralho, eu não vou mentir, caralho!
Opanas: (para o Tolik) Filho, olha, o mar!
Tolik: (sem nenhum entusiasmo olha para o mar agitado) Papá, o mar, é grande? Assim, que a outra margem não se vê?
Opanas: Com os binóculos pode-se ver.
Tolik: E se os binóculos estragaram-se, então vê-se?
Opanas: Mas que caralho podes tu ver, se não se vê nada?!
Tolik: Papá, na outra margem estão os nossos?
Opanas: (sinistramente) Ali estão os moscovitas!
Todos calam-se funestamente. O comboio pára. Podem-se ouvir gritos: “chegamos” e um barulho do mar, bastante ameaçador.
Quinto acto
Varanda com samovar. No mar levanta-se uma tempestade. Os moscovitas estão na varanda.
Aleksándr: O tempo, ah, Nadéjda, o dono não irá mandar o seu próprio cão para a rua!
Nadéjda: Se eu souber, que você é um cabrão assim, eu melhor iria com o Trofím para o Seliger. Em vez de aqui, contigo, foder o ceguinho!
Aleksándr: Tu, Nadéjda, não me enerves, eu te parto a cona, por este Trofím!
(Entram Opanas, Tolik, Misha e Grisha).
Misha: Olhem lá, os moscovitas!
Grisha: (com sotaque moscovita) Como vaaai o tempo em Maaascovo???
Vladimír: Eu não entendi a piada?!..
Opanas: Mas que caralho, os moscovitas são sempre tão espertos, mas não entendem... (Opanas aproxima-se de modo ameaçador ao Vladimír). Tira as calças, vou te foder!
Yemelyán: Perdão, vocês não estão na sua casa!
(Misha, Grisha, Opanas e Tolik batem os moscovitas. Estes gritam com as vozes manhosas).
Nadéjda: Grunhos malditos, eu vós odeio, eu gostaria de fuzilar vós todos!
Opanas: (golpeia a Nadéjda) ‘Tá calada, sua puta, quando homens falam contigo!
(Gritos silenciam-se. Mão tempo colossal toma conta do mar. Em redor, estão estendidos os corpos dos moscovitas espancados).
Tolik: Papá, parece que acabou, caralho!
Opanas: (da porrada no Tolik) Quantos vezes tenho que te ensinar, caralho, para que tu não praguejares?! O pai para ti é o que, um lugar vazio, pá?!
De repente ove-se um barulho aterrorizante. É o samovar dos moscovitas. Ele chia, sobrepondo-se ao barulho da tempestade no mar. Todos olham o samovar com medo. Os barulhos de samovar acompanham o fecho devagaroso da cortina de boca.
FIM.
Nota sobre o autor:
Oleksander ( Les ) Podervyanskiy nasceu em 1952 em Kyiv (Kiev).
Em 1976 foi graduado pelo Instituto de Belos Artes de Kyiv. Desde 1980 é membro da União dos Pintores da Ucrânia.
Especialidades: design teatral, gráfica.
Vive e trabalha em Kyiv.
Notas de tradutor.
1. “Varanda com samovar e bandeja de uva junto à um mar azul” é uma certa alusão às peças teatrais de Anton Tchekov.
2. O pano de fundo da peça são relacionamentos entre os russos da 1ª (moscovitas, gente vinda de metrópole) e os russos da 2ª (gente nascida ou residente nas colónias). Os da 2ª não gostam dos primeiros, considerando os “betinhos”, e os da 1ª desprezam os da 2ª, considerando os “lavradores e incultos”.
3. Quer os moscovitas, quer os russos ultramarinos, falam a língua russa de uma maneira que os caracteriza como certa classe social. Tentou-se preservar essas falas na tradução, que foi possível apenas parcialmente.
4. O local hipotético, onde se desenrola a peça, é a Crimeia, terra conquistada pelos russos, aos tártaros no século XVIII.
5. Seliger – destino turístico russo, na moda nos anos 70 – 80.
Vários monólogos de Les Podervyanskiy, estão disponíveis no seu site oficial:
www.ultima.te.ua/hamletua/index7.html