Carta de um imigrante / Ivan Frankó
No verso "Carta do Brasil", escrita em 1895 por poeta da Ucrânia Ocidental, Ivan Frankó (1856-1916), é contada a história de quarenta ucranianos que migraram para o Brasil no século XIX.
"Vizinhos! - é Olécia que está escrevendo.
Saúde boa e bem vai se vivendo.
Faz sete meses que silenciamos.
No fim de tal destino já acampamos.
Vivemos em florestas, em cabanas,
e imensamente, estamos trabalhando.
Vivemos juntos, não nos separaram,
da vila, quinze léguas nos distaram.
Na mata, sob montanhas... não chiamos.
Não há estradas, trilhas palmilhamos.
Brasil! Também se sofre nessa terra:
pegou-nos logo a febre amarela.
Em três meses na Ilha das Flores
morreram três mulheres e três homens.
Vendemos como servos cinco moços,
àquelas casas foram cinco moças.
Dos moços não tivemos nem notícia.
As moças comem, bebem... quê "delícia!"
Que mais escrevo? Novas não alardam.
De cobras cinco nossos se finaram.
Aqui anda um povo rude pelo mato
que mata e come a gente. Fuja deste fato.
Se Deus quiser, e nós nos recompormos
quarenta fomos, em dezoito somos.
É pena que rezar nem conversar
não querem em ruteno (ucraniano) nos deixar,
Na vila, Kandziubinski assim gritou:
"Aqui não se fala em ruteno, não!
Polacos são o rei, o país e Deus!
Falar em polaco ou calar de vez!"
Fazer o que com tal intimação?
Que assim seja. Qual a salvação.
Aqui termino. Adeus.
E de ora tereis mais novas se luzir melhora."
Fonte: http://www.ecclesia.com.br/eparquia/ucranianos/bravos_da_ucrania.htm