Rússia: a espera da revolução
(Titulo original: Russia is now ripe for freedom revolution, warns Solzhenitsyn)
O país não tem NADA, que pode assemelhar-se à Democracia, adverte o Prémio Nobél, escritor Aleksándr Solzhenitsyn
Jeremy Page, “The Times”, Grã – Bretanha, 7 de Junho de 2005
Aleksándr Solzhenitsyn, escritor – dissidente no passado, depois de um silêncio de três anos, deu entrevista à TV, para dizer que a Rússia poderá brevemente viver uma revolução igual à Revolução Laranja na Ucrânia.
O Nobél da Literatura de 86 anos, que ficou preso 10 anos no GULAG soviético, disse na entrevista, que na Rússia não acontece nenhum retrocesso democrático, pois o país nunca chegou a ser verdadeiramente democrático.
“Que tipo da democracia é ameaçado? O poder do povo? Nos não temos este poder”, - disse escritor à canal pró – Kremlin, “Rossiya”.
“Não temos nada, que pode assemelhar-se à Democracia. Tentamos criar a democracia sem a autonomia administrativa local. Primeiro, temos que criar o sistema, que permita às pessoas dirigir os seus próprios destinos”.
Solzhenitsyn também disse, que a Duma Estatal (a câmara baixa do parlamento russo), onde a maioria apoia Kremlin, comporta-se como “bêbada” e que se o Governo não mudar o curso, país poderão viver movimentações, parecidas com a Revolução Laranja na Ucrânia em 2004.
Solzhenitsyn foi última das personalidades notáveis, que reanimou as debates públicos na Rússia, desde que presidente Putin retrocedeu as reformas democráticas, anulando as eleições do sufrágio directo dos governadores regionais. Mas o escritor não mostrou o seu apoio à oposição liberal.
Em vez disso, ele condenou o parlamento russo, todos os partidos políticos e os Estados Unidos pelas tentativas de “impor a democracia à outros países”. “Democracia não vale nem um tostão, se é imposta nas baionetas. Democracia deve crescer devagar e gradualmente”.
Solzhenitsyn é considerado na Rússia, como uma das poucas autoridades independentes, morais e políticas, mas ele é muitas vezes criticado no Ocidente pelo seu nacionalismo e ortodoxia religiosa. Nas suas entrevistas anteriores, ele atacava o Putin, por este não conseguir dominar os oligarcas, duas dezenas de empresários, que no processo das privatizações nos anos 90, adquiriram as empresas estatais às preços muitíssimo baixos.
No Ocidente, o Putin é criticado exactamente por ataque estatal contra um dos oligarcas do petróleo, Mikhail Khodorkovskiy. No mês passado, Khodorkovskiy foi condenado à nove anos de prisão, no processo que muitos consideram ensaiado pelo Kremlin, para castigar um potencial concorrente e apoderar-se da sua propriedade.
O Vice – Procurador Geral da Rússia, Vladimir Kolesnikov, disse à televisão NTV, que poderão surgir os novos parecidos processos jurídicos. “Posso dizer que o processo de Khodorkovskiy não será último”.
Vida de Solzhenitsyn:
- Passou 10 anos no GULAG soviético, por escrever uma carta, criticando Stalin;
- “Um dia de vida de Ivan Denisovich”, conto sobre o dia-a-dia do GULAG que celebrizou o escritor, traduzido para 35 línguas, português incluído;
- 1970 – o Prémio Nobél da Literatura;
- 1974 – deportação da URSS, pela escrita do livro “Arquipélago GULAG”, sobre o sistema dos campos de concentração soviéticos;
- 1994 – retorno definitivo à Rússia.
Fonte: http://www.inosmi.ru/translation/220150.html
Bloguista diz: Sendo um tradicionalista, Solzhenitsyn sempre acreditou no mito do “bom czar”, por isso, talvez, não é de estranhar, o seu desinteresse pelo destino dos novos prisioneiros da consciência russos.