quinta-feira, dezembro 13, 2007

O fim do c@ralho

Muito recentemente o grande e terrível Les Poderevyansky decidiu ir visitar a África. Ele escolheu a Tanzânia pela sua beleza natural e pelos leões – assassinos, uma especial raça felina, cujos membros têm umas riscas próprias e são mais magros, ou lá o que eles são.

Quando os amigos ouviam os planos do Les, normalmente o aconselhavam a ter cuidado redobrado com as doenças, malária, etc. O mestre respondia calmamente – “doenças o tanas, mais importante que os leões não (me) arranquem o c@rralho”.
Mestre foi e voltou, adorou a África, adorou a Tanzânia, estive Serengeti e na cratera Ngorongoro, visitou a ilha de Zanzibar, enfim, ficou muito contente e prometeu voltar mais.

Enderecei lhe um convite especial para visitar o Moçambique e Sr. Les prometeu estudar essa possibilidade na sua próxima deslocação ao continente africano.
Entretanto, para comemorar em estilo a sua viagem à África, decidi traduzir para o português mais uma peça do Les, que chama-se “É o fim do c@ralho”, ou simplesmente “Пiздєц”, em calão mais ou menos ucraniano.
É o fim do caralho (Піздєц)

Personagens

Magarych
, artista.
Omelyan Conatorta, artista.
Kharyton Xipocenko, artista.
Nazar Sivukha, artista.
Alfredo Manguitenko, artista.
Lyuda, hospedeira nos caminhos de ferro, fodida por todos artistas supracitados, as vezes em razão de uma bicha, outras vezes assim mesmo.
Gavryusha Macacov, engenheiro.
Stepan Bilha, engenheiro principal.
Szlioma Gomelsky, cientista.
Roger Gorody, nacionalista burguês francês.
Profeta Samuel, judeu velho.
Primeiro acto
No palco está uma carruagem de mercadorias. Na porta da carruagem escrito: E=MC^2. Um pouco em baixo escrito: “Nada desaparece em nada e não aparece do nada”, assinatura: Lomonosov. Mais em baixo palavrões obscenos. Portas estão bem fechadas e amarradas com arame, atrás de portas podem-se ouvir as vozes abafados.
Primeira voz: Imaginem lá, — este cabrão sai e vocês fica com ela sozinhos, mas você não tem nada nas mãos, menos uma velha e furada gamela de madeira.
Segunda voz: Deste ponto, por favor, com todos os pormenores, Sr. Alfredo.
Primeira voz: Primeira coisa, você mija na gamela.
Terceira voz: Mas ela é furada, Sr. Alfredo.
Quarta voz: Caluda, caralho, oiça o que diz a pessoa inteligente.
Voz do Alfredo Manguitenko: Repito mais uma vez, para os atrasados mentais: você mija na gamela, estimado, e depois mete lá a ela com ambos os pés.
Segunda voz: (em voz rouca) O que, vestida?
Voz do Alfredo Manguitenko: Claro que não, Sr. Sivukha, - nuazinha!
Terceira voz: É pá! Mas para que fazer essa merda – venha por traz, e meteu!
Quarta voz: Você, Conatorta de caralho, em vez de falar muito, aprendia mas é, com os mais velhos.
Terceira voz: Mas que caralho!
Voz do Alfredo Manguitenko: Explicação especial para os filhos do quintal – urina activa as zonas erógenas nos calcanhares da mulher.
Voz do Conatorta: É pá, mas que merda da zona essa, caralho, quando sonho com ela todas as noites.
Quarta voz: ´Ta calado, caralho, deixa ouvir!
Voz do Alfredo Manguitenko: Tantra, caralho!
Voz do Nazar Sivukha: Eu peço vós, não distrair-se, estimado Sr. Alfredo.
Voz do Alfredo Manguitenko: Eu chamo a vossa atenção, senhores, — a mulher durante este processo entra em estado da excitação sexual.
Voz do Nazar Sivukha: O que o Sr. disse, Sr. Alfredo? Repete.
Alfredo Manguitenko: “Excitação sexual”, sua cona de óculos. E neste preciso momento, senhores, você, com o dedo indicador e anular apalpa a jarrête dela e começa lambe-la, sempre subindo com a língua mais, mais, mais...
Quinta voz: E assim até o rabo dela! Ah – ha – ha – ha!

A carruagem estremece do riso animalesco.

Voz do Alfredo Manguitenko: E neste mesmo minuto, meus amigos, a erecção tão esperada visitará vós.
Voz do Nazar Sivukha: E se não visita, Sr. Alfredo? O que fazer neste caso?
Voz do Omelyan Conatorta: Então tens que dizer um grande adeus!

Entra a Lyuda, vestida de hospedeira dos caminhos de ferro, nas mãos, a Lyuda tem uma bandeja com a comida. Ela desamarra a arame na porta, abra-a e desaparece nas entranhas escuras da carruagem de carga.

Voz do Omelyan Conatorta: Quanto tempo temos que te esperar, sua puta!
Voz do Kharyton Xipocenko: Outra vez macarrão, caralho!
Voz do Alfredo Manguitenko: O que, não há bacilo?
Voz do Nazar Sivukha: Você, não faz barulho, seu caramelo — marmelo!
Voz do Magarych faz barulho com a boca ao comer.

Algum tempinho da carruagem só se ouve o barulho das bocas ao comer, o bater dos colheres do alumínio e a réplica do Omelyan Conatorta "Da – lá a compota, p´ra caralho!". Mais logo, escutamos a voz escovinha do Nazar Sivukha — "Lyuda, tu estas pronta?", e um barulhinho misterioso. Alguns minutos mais tarde, Lyuda sai da carruagem de mercadorias, levando nas mãos as tigelas sujas, mas bem arrumadas de alumínio. Ela ajeita o cabelo, ponha o barrete de fardamento e amarra as portas com o arame. Da carruagem de mercadorias ouve-se o arroto de fartura de alguém e o riso alegre. Vê-se por tudo, que os seus habitantes vivem bem e alegremente. Entram Gavryusha Macacov e Stepan Bilha, mergulhados nas suas pastas de engenheiros e os cálculos. Eles estão fodidos e complexados.
Gavryusha Macacov: Nos nossos cálculos, se a construção não vai p´ra caralho agora - vai p´ra caralho de certeza no trimestre seguinte.
Stepan Bilha (com medo): E o que vai acontecer, Gavryusha?
Gavryusha Macacov (cospe): Cadeia, p´ra caralho!
Voz do Alfredo Manguitenko: Então, meus amigos, se tratar mulher bem, então ela se torna já não a mulher, mas a sinfonia do aquele, como se diz...
Voz do Magarych: Brahms!
Voz do Alfredo Manguitenko: Mete-la o Brahms no cu! É pa mandou p´ra caralho, como no charco peidou!

Da carruagem outra vez ouve-se como alguém arrotou de fartura e a voz do Omelyan Conatorta — "Macarrão, caralho!"

Stepan Bilha (murmurando): Lá é que apanham a pancada!
Gavryusha Macacov (para a Lyuda): Quem está lá?
Lyuda: Artistas.
Gavryusha Macacov: Que artistas?
Lyuda: Diversos. Um com a barba, ou barbeado, mais dois com bigodes e um de óculos — ainda é puto.
Stepan Bilha: E o que eles fazem?
Lyuda: Ah, comem o macarrão! No sábado e domingo em vez de compota — café, horilca (vodka ucraniana) nos feriados.
Gavryusha Macacov: E o bacilo?
Lyuda: O bacilo era dado antes, agora não.
Stepan Bilha (decididamente): É pá, é a mesma coisa — vida boa p´ra caralho! (para a Lyuda). Abre, puta!
Lyuda: Talvez é melhor deixar – eles vão vós bater!
Stepan Bilha: É pá, a mesma merda – vivemos uma única vez! É pá, a vida de um raio!

Stepan Bilha e Gavryusha Macacov tomam de assalto a carruagem, mas imediatamente levam no focinho e rolam para traz. (Gavryusha apalpa um galo na cara: "Terroristas de caralho!")

Stepan Bilha: Deixem entrar amigos! Não volta acontecer!
Voz do Magarych: Vejo que para te é pouco, levar p´ra caralho, — você ainda quer levar na bilha! Fecha a porta, um pivete!
Stepan Bilha: Pessoal, podem me foder onde quiserem, mas deixem entrar - vou tratar da latrina, juro, p´ra caralho!
Voz do Kharyton Xipocenko: É pá, talvez podemos deixar entrar, pessoal - ele é engenheiro, como um cachorro, vai gemendo, fica mais alegre, se nós aborrecerá – estrangulemos e mandaremos p´ra caralho!
Alfredo Manguitenko: Boa, pessoal – pode subir.
Omelyan Conatorta: Homem para o homem é amigo, camarada e irmão.

Gavryusha Macacov e Stepan Bilha sobem para a carruagem de mercadorias e desaparecem na escuridão. Lyuda outra vez fecha a porta com a arame.

Voz do Magarych: Mas você, sua puta, se deixes entrar mais alguém - eu vou te arrancar as amígdalas pelo rabo!

Lyuda sai, tilintando com a bandeja vazia.

Voz do Alfredo Manguitenko: Onde paramos, meus senhores
Nazar Sivukha: Na sintonia do Brahms.
Alfredo Manguitenko: Manda me aquele Brahms p´ra caralho! Você, sr. Sivukha, melhor ouvir bem e apontar no livro de citações, porque você p´ra caralho, ainda não conhece a vida. Por exemplo, ontem, depois do jantar, uma puta qualquer lhe ligou — tipo, deixa tudo — venha me foder! E o que você fez? — Todo estremeceu, parece raivoso e começou arrear na porta (quase partiu os óculos). Ainda bem, que eu sempre tenho uma seringa pronta. Por exemplo, vocé, Conatorta. O que você fazia no lugar do Sr. Sivukha?
Voz do Omelyan Conatorta: Eu a matava!
Alfredo Manguitenko: Ouviu, Sr. Sivukha? O que não esta claro?
Stepan Bilha (bajulando): Mas o que você tem na seringa?
Alfredo Manguitenko (demonstrando a sua comunicabilidade): Porque não dizer? Vou dizer: numa ampola – semem condensado do castor, na outra — vários imuno dipressantes.
Stepan Bilha (admiradíssimo): Que gente! Gavryusha, que gente! E nós, toda a vida andamos se foder como toupeiras, voamos como aquela mosca.

Alguns minutos atrás Szlioma Gomelsky — o cientista se aproximou à carruagem e com interesse está ouvir a conversa, que esta fluir suavemente no seu leito habitual.

Alfredo Manguitenko: Ou então, vamos ver essa coisa de danças. Agora qualquer cabrão dança a sua maneira, abana com as mãos e pernas, fica todo suado, mas como recompensa talvez vai apanhar a pneumonia. No entanto, suor masculino – é um produto muito valioso. Portanto, em vez de abanar com as mãos, pega um lencinho e mete o no sovaco e assim dança, para que apanha bastante suor.
Voz do Magarych: É, pá, uma cena de caralho!
Alfredo Manguitenko: E quando ficar bem molhado – logo limpas a goela de alguma gaja e podes contar que a coisa esta feita.
Voz do Conatorta: É, pá, mas para que essa merda?
Alfredo Manguitenko: Ela vai cheirar uma única vez e já ’ta fodida. Das zonas erógenas do nariz o impulso vai para o órgão sexual de excitação. Único trabalho é leva-la até os arbustos!

Ranhos e saliva generosa, estão escorregando pela cara sardenta e de óculos do Szlioma Gomelsky, que ficou colado com ouvido na carruagem.

Szlioma (através das lagrimas de felicidade): Pessoal, deixem entrar.
Voz do Alfredo Manguitenko: Vai para o laboratório, seu judeu, aqui já os nossos ’tão de caralho!
Szlioma (admirado com essa clarividência): Como você sabe, tio?
Alfredo Manguitenko: Eu sei, porque vivi uma vida! Vai p’ra caralho, tens que terminar a sua pós – graduação!
Szlioma (choramigando): Quero lá foder a pós – graduação!
Alfredo Manguitenko: O que, sua cona, não queres ganhar 150 paus?! É, pá, vocês já viram isso? O puto ’ta muito teso.
Szlioma chora. O seu choro faz o efeito deprimente naqueles que estão na carruagem. Eles ficam em silêncio maligno.

Omelyan Conatorta: (rigidamente). Não faz mal, deixem ele chorar, depois pode ir fazer circuncisão a si mesmo, petisca com a matzá e vai mandar, com o cu bem quentinho.
Alfredo Manguitenko: Tu não es humanista, Omelyan.
Magarych: É, pá, talvez levaremos o judeu?
Kharyton Xipocenko: É, pá, para mi, tanto faz. Pode entrar...
Conatorta: O quinhão de cada um vai diminuir!
Nazar Sivukha: Judeus – são espartos de caralho. Esperem, eles não apenas o macarrão, — eles até o carapau arranjam!
Alfredo Manguitenko: Carapau que não o fode, Sr. Sivukha, — você de qualquer maneira não o comerá (para o Szlioma), — vamos judeu, desamara o arame e venha cá, vamos te fazer iniciação em artista.

Szlioma desamara o arame e entra na carruagem, onde o começam encher de porrada os adeptos dessa coisa. Magarych, Omelyan, Conatorta e Kharyton Xipocenko.

Gavryusha Macacov: Tem que amarrar as portas de alguma maneira, isso não é a misericórdia, que eles entrem e entrem!
Alfredo Manguitenko: Deixa lá, Lyuda vai trazer o almoço, então vai amarrar.

Entra Roger Gorody – nacionalista burguês francês. Ele veste um fato muito chique de flanela, tem chapéu bonito na cabeça.

Roger Gorody (bate na carruagem): Saem pessoal, — chegou a liberdade!

Na carruagem reina o silêncio.

Roger Gorody: Deixem de tristezas, pessoal, lá fora está nice – passarinhos, trigo, flores, meninas, o que quer – podes desenhar, à onde queres – podes mandar toda a gente!
Stepan Bilha (murmurando): Uma provocação clara, pessoal, — nós saímos, e ele, oops, rapidamente entra cá e vai tachar o nosso macarrão!
Alfredo Manguitenko (para o Roger Gorody): E vamos receber o bacilo?
Roger Gorody: Não. Bacilo só tem Deus e os chefes!
Magarych: Então vá p’ra caralho daqui!
Omelyan Conatorta: Não vais nós persuadir p’ra caralho! Nós próprios podemos persuadir qualquer um!

Da carruagem sai um pedregulho que acerta no chapéu do Roger Gorody. Roger Gorody foge rapidamente. Entra um velhote com peisah compridos, vestido em balalaica, por cima da balalaica ele tem um colete florescente dos trabalhadores ferroviários, nas mãos eles tem a marreta e pé-de-cabra.

Voz do Magarych: Vovó, amarra o arame p’ra caralho, porque tem cá um corrente de ár.

Velho sem dizer uma única palavra amarra a carruagem com arame e começa, servindo-se da marreta retirar os cepos de freio que travam a carruagem no seu lugar.

Voz do Kharyton Xipocenko: Vovó de caralho, é pá, tem que foder a coisa com essa força toda!
Magarych: Velho é forte p’ra caralho. Talvez até tem o caralho teso! Fica teso, vovó?
Velho (continua com o trabalho). Fica, filho, — que Deus te dê, para que fique assim!
Omelyan Conatorta: É pá, vovó ´ta se passar! Como você se chama?
Velho (continua o trabalho): Como me chamo? Samuel.
Kharyton Xipocenko: Também, então judeu. Judeus procriaram-se p'ra caralho!
Samuel (continua a trabalhar): Sim, muitos judeus.
Omelyan Conatorta: Nós cá também temos um.
Nazar Sivukha: É pá! Samuel. Talvez você é o profeta, Samuel?
Samuel (simplesmente). Sim, eu sou o profeta Samuel.
Alfredo Manguitenko: É pá! Isso é fixe. Manda lá uma profecia sobre o que vai nós acontecer!
Profeta Samuel: O que vai acontecer? Nada vai acontecer – acontecerá o Fim do Caralho!!!

Com essas palavras Samuel retira o último cepo de freio, carruagem arranca do seu lugar e rapidamente desaparece dos olhos. Entra Lyuda. Nas suas mãos pratos semi – rasos com macarrão e compota. Lyuda fica quieta no seu lugar.

Lyuda: Mas onde esta a carruagem? Onde esta o pessoal?
Profeta Samuel: Onde está, onde está – `ta na cona! Deverias ver!

Pano de boca se fecha.

Neste preciso momento, do lado para onde foi a carruagem ouve-se um rebentamento terrível. Lyuda deixa cair os pratos e fica pregada no chão.

Profeta Samuel: Mas como somos sensíveis, p'ra caralho!

Digitou em português: (JnW, com ajuda do WordPad, Word tinha um bug de caralho).
Formatação em ucraniano: Chill (chill arroba doslidy ponto kiev ponto ua )
Sítio: http://www.doslidy.kiev.ua/

* Johannes Brahms (Hamburgo, 7 de Maio de 1833 – Viena, 3 de Abril de 1897), compositor alemão, uma das mais importantes figuras do Romantismo musical europeu do século XIX.